Processo de Valorização
Embora botas, por exemplo, constituam de certo modo a base para o progresso social e nosso capitalista seja um decido progressista, ele não fabrica botas por causa delas mesmas.
Produto é um valor de uso, propriedade do capitalista. Produzem-se valores de uso somente porque e na medida em que sejam enquanto substratos materiais, portadores de valor de troca.
O capitalista quer:
Produzir valor de uso que tenha valor de troca;
Produzir mercadoria que tenha valor mais alto que a soma dos valores das mercadorias exigidas na sua produção.
Mercadoria produzida > Soma dos valores
Soma dos valores = Meios de produção + força de trabalho
Ou seja:
Produz-se não só valor de uso, mas valor e não só valor mas mais valia.
Como a mercadoria é unidade de valor de uso e valor, seu processo de produção tem de ser unidade de processo de trabalho e processo de produção de valor.
O valor de toda mercadoria é determinado pelo quantum de trabalho materializado em seu valor de uso, pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção. Isso vale também para o produto que o capitalista obteve como resultado do processo de trabalho. Inicialmente, tem-se portanto de calcular o trabalho materializado nesse produto.
Por exemplo: fio
Fio = Matéria-prima dez libras de algodão = dez xelins; (no preço do algodão está representado o tempo de trabalho exigido para sua produção.)
Massa de fusos desgastada no processamento do algodão + outros meios de trabalho empregados = dois xelins;
Se doze xelins são o produto de dois dias de trabalho segue-se que no fio estão objetivados dois dias de trabalho.
Segundo a lei geral do valor, dez libras de fio são um equivalente de dez libras de algodão mais ¼ de fuso, desde que o valor de 40 libras de fio seja igual ao valor de 40 libras de algodão mais o valor de um fuso inteiro, isto é, que o mesmo tempo de trabalho seja exigido o que está em cada um dos lados dessa equação.
O mesmo tempo de trabalho representa-se (incorpora-se) uma vez no valor de uso fio, e outra vez nos valores de uso algodão e fuso.
O valor é indiferente se aparece em fio, em algodão ou em fuso.
O tempo de trabalho exigido para a produção de algodão é parte do tempo de trabalho exigido para a produção do fio, ao qual serve de matéria-prima, e por isso está contido no fio.
Os valores dos meios de produção, mais os do algodão, mais os do fuso, são iguais à doze xelins e formam partes do valor do fio, ou seja, do produto.
Na medida em que o trabalho tecelão é formador de valor (fonte de valor), não se distingue do trabalho do plantador de algodão e do produtor de fusos, realizados nos meios de produção do fio. Plantar algodão, fazer fusos e fiar formam partes apenas quantitativamente diferentes do mesmo valor total – do valor do fio.
Durante o processo de trabalho, o trabalho se transpõe da forma de agitação para a de ser, da forma de movimento para a de objetividade.
No fim de uma hora, um movimento de fiar está objetivado em determinado quantum de fio;
determinado quantum de trabalho está objetivado no algodão como fio.
Durante a transformação do algodão em fio, somente o tempo de trabalho socialmente necessário deve ser consumido.
Se A libras de algodão tem de ser transformadas durante uma hora de trabalho em B libras de fio, então somente serve como jornada de trabalho de doze horas aquela jornada de trabalho que transforma 12 vezes A libras de algodão em 12 vezes B libras de fio.
Portanto:
Matéria-prima é algo que absorve determinado quantum de trabalho;
Por meio dessa absorção transforma-se em fio porque a força de trabalho foi despendida e lhe foi acrescentada sob forma de fiação.
O produto, o fio, é agora apenas uma escala graduada que mede o trabalho absorvido pelo algodão.
Se em uma hora 5/3 de algodão é transformada em 5/3 de fio, então dez libras de fio indicam seis horas de trabalho absorvidas.
Valor total do produto:
10 libras de fio = 15 xelins;
Elementos constitutivos:
10 xelins de algodão + 2 xelins de fusos desgastados + 3 xelins da força de trabalho.
Os valores do algodão, do fuso, da força de trabalho estão concentrados numa só coisa = 15 xelins.
O valor do produto é igual ao capital adiantado.
Exame detalhado da questão
O valor de um dia da força de trabalho importava em 3 xelins porque nela mesma está objetivada meia jornada de trabalho.
Mas o trabalho passado que a força de trabalho contém e o trabalho vivo que ela pode prestar são grandezas inteiramente diferentes: a primeira é seu valor de troca e a segunda determina seu valor de uso.
O fato de que meia jornada de trabalho seja necessária para mantê-lo vivo durante 24 horas não impede que o trabalhador trabalhe um jornada inteira.
O valor da força de trabalho e sua valorização no processo de trabalho são portanto duas grandezas distintas.
O capitalista tinha em vista essa diferença quando comprou a força de trabalho.
O fato de que meia jornada de trabalho seja necessária para mantê-lo vivo durante 24 horas não impede que o trabalhador trabalhe um jornada inteira.
O valor da força de trabalho e sua valorização no processo de trabalho são portanto duas grandezas distintas.
O capitalista tinha em vista essa diferença quando comprou a força de trabalho.
A propriedade útil da força de trabalho era apenas uma conditio sine qua non, pois o trabalho para criar valor tem que ser despendido de forma útil.
Mas o decisivo foi o valor de uso específico dessa mercadoria (força de trabalho) ser fonte de valor e de mais valor do que ela mesma tem.
O vendedor da força de trabalho realiza o seu valor de troca e aliena seu valor de uso. Ele não pode obter um sem se desfazer do outro. O valor de uso da força de trabalho, o próprio trabalho, pertence tão pouco ao seu vendedor quanto o valor de uso do óleo pertence ao comerciante que o vendeu.
O possuidor de dinheiro pagou o valor de um dia da força de trabalho; pertence-lhe portanto a utilização dela durante o dia, o trabalho de uma jornada. A circunstância de que a manutenção diária da força de trabalho só custar meia jornada de trabalho, apesar de a força de trabalho trabalhar o dia inteiro e, por isso, o valor que sua utilização cria durante um dia ser o dobro de seu próprio valor de um dia, é a grande sorte do comprador, mas, de modo algum uma injustiça contra o vendedor.
O capitalista ao transformar dinheiro em mercadorias, que servem de matérias constituintes de um novo produto, ao incorporar força de trabalho viva à sua objetividade morta, transforma valor, trabalho passado, objetivado, morto, em capital, em valor que se valoriza a si mesmo.
Se compararmos o processo de formação de valor com o processo de valorização, vemos que o processo de valorização não é nada mais que um processo de formação de valor prolongado até certo ponto. Se este dura até o ponto em que o valor da força de trabalho pago pelo capital é substituído por um novo equivalente, então é processo simples de formação de valor. Se ultrapassa esse ponto torna-se, processo de valorização.
Se compararmos, além disso, o processo de formação de valor com o processo de trabalho, vemos que este consiste no trabalho útil que produz valores de uso.
O movimento é considerado aqui qualitativamente, em seu modo e maneira particular, segundo seu objetivo e conteúdo.
O mesmo processo de trabalho apresenta-se no processo de formação de valor somente em seu aspecto quantitativo.
Como unidade do processo de trabalho e processo de formação de valor, o processo de produção é processo de produção de mercadorias; como unidade de processo de trabalho e processo de valorização, é ele processo de produção capitalista, forma capitalista da produção de mercadorias.
Para o processo de valorização é totalmente indiferente se o trabalho apropriado pelo capitalista é trabalho simples, trabalho social médio ou trabalho mais complexo – trabalho de peso específico superior.
O trabalho que vale como trabalho superior, mais complexo em face do trabalho social médio, é a exteriorização de uma força de trabalho na qual entram custos mais altos de formação, cuja produção custa mais tempo de trabalho e que, por isso, tem valor mais elevado que a força de trabalho simples. Se o valor dessa força é superior, ela se exterioriza em trabalho superior e se objetiva nos mesmos períodos de tempo em valores proporcionalmente mais altos.
Em todo o processo de formação de valor, o trabalho superior sempre tem de ser reduzido a trabalho social médio para ser desvalorizado como compra. Equipara-se pois o trabalho complexo ao trabalho simples para desvalorizar a força de trabalho.
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